Moto Honda CG 125 cafe racer por Santiago Cafe

O chamado objeto de desejo nem sempre diz respeito a algum bem material caríssimo, provavelmente acessível a poucos com saldo bancário suficiente para tornar realidade um sonho de consumo em particular. Objeto de desejo, muitas vezes, tem relação com identidade e, principalmente, em transformar algo ordinário, comum, em um objeto exclusivo e com personalidade própria.

Basicamente esse sentimento e essa transformação é a espinha dorsal do trabalho de customização de motocicletas. Talvez, por essa razão, as motocicletas de baixa cilindrada, mais utilitárias do que qualquer outra coisa, relativamente comuns e que circulam em profusão por ruas e avenidas de grandes cidades, quando modificadas, chamam tanta atenção e despertam paixões arrebatadoras. Um cenário é presenciar uma máquina potente e, de certa forma, por seu custo, exclusiva, se transformar em outra máquina igualmente potente e exclusiva com outra roupagem e estilo. Mas o que gera um encantamento é justamente o trabalho do artesão que é o customizador de motocicletas ao partir de um objeto comum e dele fazer nascer algo completamente novo e diferente. Não a toa, o que comprava o enorme apelo das pequenas, em números, é o enorme sucesso que toda e qualquer CG 125 faz tanto nas páginas do site de Motocultura quando em nosso canal do Youtube.

É exatamente o caso da Honda CG 125 1984 construída por Santiago Cafe (Rodrigo Santiago), entusiasta da customização e customizador nas horas vagas. O resultado de sua criação, carinhosamente chamada de Catarina, nome de batismo pelo proprietário anterior e que acabou sendo mantido, falou alto ao coração de Victor Marinho, fundador do Motocultura, no Kustom Day, em Santo André, evento de customização no qual a pequena CG 125 concorreu ao prêmio máximo. Paixão instantânea. A CG 125 saiu do evento direto para a garagem do seu novo e apaixonado proprietário.

Vídeo: Honda CG 125 cafe racer

 

O projeto da CG 125 Catarina nasceu como uma espécie de derivação de outro projeto anterior. Santiago já havia construído uma primeira cafe racer com um estilo voltado à estética rat, estilo derivado dos hot rods que se pauta pela falta de acabamento e/ou pela simulação de aspecto velho e descuidado. A ideia inicial da CG Catarina era fazer par com a irmã rat e tinha um destino certo: Santiago fez a moto para sua esposa, para que ambos pudessem rodar juntos. Ele com sua CG 125 rat e ela com uma versão mais “arrumadinha”. O curioso é como, na maior parte do tempo, a febre das duas rodas é uma paixão e motivação em família. Victor Marinho viu na motocicleta construída por Santiago justamente a oportunidade de ensinar seu filho a andar de moto e despertar nele o mesmo carinho pelo mundo das duas rodas.

Honda CG 125 cafe racer rat: a antítese da CG 125 Catarina.

O ofício de transformar e cuidar de motocicletas em Santiago apareceu, em um primeiro momento, como um incentivo de seus amigos trilheiros. Rodrigo praticava trilha e tinha um hábito curioso e pouco usual  no meio: deixar sua motocicleta impecável e brilhando antes de colocá-la no meio da lama, sujeira e todo tipo de coisa passível de detonar e avariar sua moto. Seus companheiros, vendo o extremo capricho e cuidado, sugeriram que aquilo poderia se transformar em um trabalho. Percebendo o movimento das customizadas crescendo, Santiago lembrou da ideia e resolveu entrar definitivamente no mundo da transformação. Primeiramente pensou em procurar alguém para fazer seu primeiro projeto mas, exigente e detalhista como se deve ser, logo percebeu que, nessas condições, era muito melhor ele mesmo fazer suas motos, no seu tempo e com a dedicação e cuidado dentro dos seus altos padrões. O resultado não poderia ser diferente. Em pouco tempo, suas construções, feitas nas horas vagas já que não eram o seu ofício principal, começaram a chamar a atenção. Em 2019 a CG 125 cafe racer Catarina foi selecionada como finalista no Concurso de Customização promovido por Motocultura e foi veículo de exposição na final em São Bernardo, durante o evento Hot Rods Brasil. O namoro de Motocultura com a pequena CG já tinha uma história e foi questão de tempo até a proposta de casamento ser feita (a compra da moto).

O mais interessante é que a CG 125 Catarina acabou sendo o primeiro trabalho comercial de Rodrigo Santiago, coisa que, a princípio, não era o intuito original pois a motocicleta não foi feita para ser vendida e sim para ser parte da família. E isso acabou abrindo portas e oportunidades no meio. Hoje Rodrigo ainda mantém a customização como uma segunda atividade constante e vem sendo pago e procurado pelo seu trabalho. Prova disso é que, recentemente, recebeu oferta de um emprego em tempo integral em uma oficina de customização super conceituada e respeitada no Brasil. Além disso, tem feito projetos constantes, em maior ou menor grau de complexidade, para clientes externos.

 

Inusitado e bem-humorado: uma buzina fom fom de bicicleta

Especialidade de Rodrigo Santiago: esconder componentes de uma forma que fiquem imperceptíveis. O farol está lá, basta acendê-lo pra ver

 

 

Atualmente, Rodrigo colaborando em um projeto incrível sobre uma MV Agusta F4. O projeto da moto é trabalho da oficina Gregos Customs de São Paulo. Vimos algumas fotos da moto tomando forma e, acreditem, está ficando fantástico. Uma coisa que chama a atenção é o quanto alguns customizadores (poucos diga-se de passagem) conseguem desenvolver uma linguagem própria e uma espécie de assinatura visual em seu trabalho. É o caso dessa MV Agusta assim como da pequena Catarina.

Ao longo de todos os seus trabalhos é perceptível o quanto Rodrigo coloca de tempo, habilidade e soluções principalmente em acabamentos refinados e inusitados. A ideia de ocultar componentes óticos/elétricos e se valer de transparências, escondendo alguns elementos da moto é uma constante. A própria CG 125 Catarina, dependendo das condições de luz, aparenta não ter farol algum. Mas basta um olhar atento para ver a integração da carenagem frontal com uma lente que faz com que a peça praticamente desapareça quando apagada. Isso rendeu inclusive uma história engraçada. Parado por um policial já com o bloco de multas na mão, certo de que o veículo não tinha farol,  bastou virar a chave e magicamente surgiu o facho de luz por trás da carenagem deixando o homem da lei confuso e frustrado.

São estes trabalhos que nos enchem de alegria aqui no Motocultura: encontrar esse tipo de talento por aí, saber que está ganhando com seu trabalho e que tem reconhecimento no meio. Se depender da gente, Rodrigo vai voar cada vez mais alto e fazer motos cada vez mais incríveis.

Se você curtiu o trabalho de Rodrigo Santiago e gostaria de orçar algum trabalho de customização, você pode entrar em contato através de sua conta no Instagram: @santiagocafe

Fotos: André Santos (@andresantosfotografia)


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