Entre os anos 80 e meio dos anos 90 o mercado de motocicletas mundial era um pouco diferente do que é hoje. Os fabricantes ainda estavam disputando a tapa a atenção de um público crescente pra ver quem tomaria a dianteira e, para isso, valia todo tipo de tática. Uma delas era chamar a atenção com máquinas incomuns ou de nichos muito específicos. E um desses nichos, principalmente no Japão, era o de pequenas esportivas com um desempenho e tecnologia de dar inveja em motos maiores. Era o caso da Honda NSR 250R SP MC28 (1994), a última versão da motocicleta lançada em 1987 e derivada da Honda NS250 de 1985.
O projeto que originou a NSR 250R em 1985 já contava com especificações pouco usuais para uma moto de 250cc: um motor em V dois tempos de dois cilindros com mais de 40 cavalos e seis marchas em um quadro de alumínio. A moto não só parecia uma motocicleta de pista como se comportava como uma. O desempenho fenomenal e algumas falhas de projeto faziam com que a moto fosse um martírio na condução do dia a dia mas, se colocada em pista, ela brilhava. Por conta disso, o modelo não fez tanto sucesso mas foi crucial para a evolução de projeto na forma da NSR 250R.
A propósito, vale entender por que razão as pequenas esportivas super apimentadas sumiram do mapa e atualmente, nessa faixa de 200cc a 300cc, predominam os modelos mais utilitários e sóbrios. Uma das questões é que o projeto e a produção de uma pequena esportiva de alto desempenho e com a melhor tecnologia disponível tem praticamente o mesmo custo de uma esportiva de alta cilindrada. Com isso, o valor final de venda ao consumidor sobe nas alturas e faz com que os modelos acabem como enfeites de vitrine juntando pó nas revendedoras. Isso hoje em dia. Mas justamente nos anos 80 e 90, especificamente no Japão, onde esse tipo de máquina tinha seu público, o cenário econômico era bem diferente e é por isso que essas pequenas joias prosperavam por lá.
Até o início dos anos 90, o país asiático viveu o chamado “milagre econômico japonês“, um crescimento e prosperidade sem precedentes iniciados no pós segunda guerra mundial. Os Estados Unidos injetaram dinheiro a rodo no país com a intenção de ter o Japão ao seu lado em um cenário pré Guerra Fria já que seria pouco desejável ter a potência do oriente alinhada com os “inimigos” soviéticos. Aliado a essa ajuda houve também um forte intervencionismo do governo na economia e, a grosso modo, isso impulsionou o desenvolvimento do país que, no auge, teve seu Produto Nacional Bruto crescendo mais de 10% entre os anos 50 e 60. Esse crescimento, ainda extraordinário nos anos seguintes, foi arrefecendo e teve seu último suspiro justamente em 1991 quando houve o estouro da bolha dos preços dos ativos no país. A partir desse ponto iniciou-se a chamada “década perdida” ao longo de praticamente todos os anos 90 onde o Japão viu seu relativo atraso econômico começar a contrastar com o crescimento surpreendente dos tigres asiáticos: Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura. Por isso, até o meio dos anos 90, era possível ouvir as histórias incríveis e sedutoras de descendentes de japoneses que migravam para trabalhar no país de origem e inevitavelmente faziam fortuna. Outro fator curioso era o abandono de bens de consumo praticamente novos já que a economia era tão próspera que valia muito mais a pena comprar outro se o atual desse algum tipo de problema. Se você está na internet já há um bom tempo, provavelmente já ficou maravilhado e incrédulo vendo fotos de motocicletas praticamente novas abandonadas pelos becos japoneses constatando e comprovando justamente esse fenômeno.
E, claro, ao longo do tempo, vieram as regulamentações mais severas em termos de emissão de poluentes, afetando principalmente os motores dois tempos, assim como legislações de trânsito em certos mercados que limitavam a potência de motocicletas menores tendo em vista que seu público comprador eram jovens de 16 anos e ninguém era maluco de colocar uma moto de 250cc com quase 50 cavalos na mão de praticamente um adolescente. Somando tudo isso, aí está a razão pela qual as pequenas esportivas tiveram seu auge em um intervalo de tempo e espaço muito específicos.
Voltando a nossa Honda, em 1987 nasceu a legítima Honda NSR 250R. Uma evolução total a partir do projeto de 1985: uma motocicleta de rua imitando as NSR250 de pista. Foram quatro gerações de melhorias até culminar na última versão denominada de MC28 de 1994, um espetáculo para a época. A MC28 contava com o quadro de alumínio, balança mono braço, controle eletrônico de carburação, suspensão regulável, embreagem seca, o motor 2 tempos em V a 90 graus com toda sua agressividade, velocímetro digital e, há quase 30 anos atrás, um cartão de memória que era inserido na lateral do painel para dar a partida sem nenhum tipo de chave de contato. Por essas e outras, até hoje é considerada umas das mais incríveis motos de rua já fabricadas.
Confira um vídeo walk around super bacana da NSR 250R MC28:
E é a partir desse ponto que as coisas começam a ficar ainda mais insanas. Como se não bastasse a NSR 250R SP ser uma motocicleta incrível, dois ingleses malucos, fundadores da Tyga Performance (Tailândia), especializada em kits e peças de performance para incrementar todo tipo de motocicleta, resolveram colocar em prática um pensamento que lhes tirava o sono: como seria uma NSR 250R nos dias atuais?
A resposta se materializou em 2015 na forma da TYGA GP-T NSR300. Um kit de 300cc elevou a potência para 75 cavalos. E isso em um corpinho de 115 quilos, estabelecendo uma relação peso potência invejável.
Além da motorização, a nova NSR ganhou escapamentos de alta performance da própria Tyga com ponteiras em fibra de carbono, nova caixa de ar, novo e mais leve sub-frame, amortecedor de direção, suspensão dianteira invertida da CBR600RR e alguns componentes de freio da CBR1000RR entre muitos outros detalhes. E, obviamente, o kit de carenagens foi completamente refeito e devidamente enxugado para um visual correspondente as esportivas atuais, mais leves e esguias.
Se lá nos anos 90 a Honda NSR 250R era um sonho de consumo e, provavelmente, uma delícia de pilotar, imagine essa versão modernizada.
Seria maravilhoso poder sonhar hoje com uma “nova” NSR na garagem. Mas a questão é que o modelo original, sobre o qual foi feito esse upgrade, se transformou em um item de colecionador que provavelmente você só vai encontrar a venda em casas de leilão de veículos raros na faixa dos 25 mil dólares o que dá mais ou menos uns R$ 120.000, grana com a qual você pode levar pra casa duas modernas Honda CBR650R e ainda sobra um trocado. Bom, mas ninguém aqui está falando em CBR 650 né? A gente quer mesmo é a NSR. O que achou da máquina? Deixe seu comentário e obrigado por acompanhar o Motocultura!
Com informações de Tyga Performance, Iconic Motorbikes Auctions, NSR250.net, Asphalt and Rubber, Columbia University, Project Syndicate e Cycle World.
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