Na década de 80, com a proibição de importações e uma tentativa um pouco atrapalhada de estimular a indústria nacional na forma de um protecionismo de mercado pouco inteligente, as Hondas CB 400 eram o que tínhamos de mais interessante em se tratando de motos de “grande” porte. Elas reinavam absolutas nas mais variadas formas e cores. Foi nesse contexto que a concessionária Honda H, em São Paulo, decidiu dar uma repaginada na CB com várias modificações estéticas e de desempenho. Nascia assim a CB440 S2 projeto H.
Em 2014 dois amigos entusiastas das CBzonas e das clássicas, Ricardo Pupo e Jorge Luiz Perna propuseram, e toparam, o desafio de reconstruir uma Projeto H a partir de uma CB 400 1982 de Ricardo, que estava em começo de processo de restauração.
A História
Bié, um dos responsáveis pelo projeto H original, conta um pouco da história de como tudo aconteceu.
Tudo começou em 1978 quando um dos diretores da empresa onde trabalhava me convidou para participar de um de seus projetos: uma nova concessionária da Honda, que viria a ser chamada Projeto H.
A Honda do Brasil havia sido meu primeiro empregador, onde, em 1974, iniciei como instrutor de pilotagem segura. Fui responsável pelo centro de treinamento e supervisor de assistência técnica. Foi onde conheci e trabalhei próximo das pessoas responsáveis que viriam a ser muito importantes para o PROJETO H.
Em 1977, desanimado com a falta das motocicletas de grande porte, em função da proibição das importações, e ansioso por estar mais ligado à engenharia do que à área administrativa, deixei a Honda para ir trabalhar em uma empresa fabricante de veículos especiais, onde justamente conheci as pessoas que estavam com a ideia de abrir a Projeto H.
Em 1978, já juntos e decididos a seguir com o projeto, conseguimos a concessão e um ponto na Av. Presidente Juscelino Kubitschek, em São Paulo e, em 1979, inauguramos a PROJETO H. Sempre focados na área técnica, montamos uma oficina-modelo inédita para a época. A oficina tornou-se rapidamente conhecida e referência por sua capacidade técnica.
Em 1980, com a chegada da CB 400, cujo sucesso de vendas foi potencializado pela demanda reprimida da proibição das importações, iniciamos o desenvolvimento das chamadas CB 400 S com versões que iam desde a simples pintura especial até alterações mais completas como aumento da cilindrada (440 S), freios especiais, suspensões recalibradas, visual agressivo, etc. Essas versões foram muito bem recebidas pelo público e pela imprensa especializada que nos deu bastante espaço e visibilidade com boas reportagens e até mesmo capas.
Logo na sequencia foi criada a categoria Formula 400, que contou com público cativo nas competições pelo país e que ajudou muito no desenvolvimento e aprimoramento de motores e suspensões. A participação do Projeto H teve grande destaque, tanto pela apresentação visual da equipe como pelos ótimos resultados conseguidos pelos nossos pilotos.
Com a chegada da XL 250, em 1982, iniciamos o trabalho de preparação das motos para competições de enduro. Conseguimos no Japão a representação dos kits Mugen, de upgrade de motor e performance. As versões modificadas da moto, a 300S e 310S, foram também um sucesso, tanto pelo seu visual como pela performance. Mais uma vez chamamos a atenção da imprensa especializada que recebeu muito bem as novidades com avaliações super positivas.
Assim seguimos até 1986, quando o PROJETO H acabou sendo vendido para outro grupo que o manteve funcionando por muitos anos mas apenas com um trabalho comercial.
A réplica da moto foi apresentada em São Paulo e preparamos um vídeo com seu construtor, Jorge Luiz Perna, contando detalhes do trabalho:
Entrevista
Ricardo Pupo e Jorge Luiz Perna, idealizadores e construtores da réplica, contam um pouco sobre a moto e o projeto.
Motocultura: O que foi a Honda Projeto H?
Ricardo: Depois de reinar mais ou menos entre 1980 e 1983, sem praticamente nenhuma grande alteração, a Honda CB 400 começou a mostrar sinais de cansaço que também se refletiam nos números de vendas. A partir daí, começou a onda de personalização, tanto por parte dos proprietários como pelas próprias concessionárias Honda. Foi justamente nesse ponto que nasceu a Projeto H que consistia em inúmeras alterações técnicas e estéticas na moto pela concessionária Honda que levava o nome de Projeto H e que acabou emprestando também o nome para a moto. Como, naquela época, já haviam rumores de que a Honda lançaria uma 450 (que se cogitava ser a CB III), ela foi batizada de CB440.
Motocultura: Como a ideia da construção apareceu?
Ricardo: O projeto nasceu no final de 2014. Folheando minhas revistas antigas de moto, procurando por um determinado artigo, achei (e reli) a apresentação da CB 440 S2 da concessionária Honda Projeto H. Sempre achei o modelo muito bonito e, no dia seguinte, aparece no Facebook uma foto da mesma moto, postada pelo Jorge. Comentei que havia acabado de reler o teste dela e, trocando conversa, o Jorge sugeriu fazermos uma réplica. Aceitei na hora!
Motocultura: Quais foram as maiores dificuldades?
Ricardo: Encontrar as peças que eram, basicamente, da Honda 400 Hawk, fabricada no mercado americano e, principalmente, fazer a balança traseira de alumínio, de secção retangular, coisa que Jorge Luiz Perna fez com maestria.
Jorge: Por conta desta dificuldade com a balança, onde tínhamos uma única foto e onde só aparecia a ponta, penamos por alguns meses para tentar decifrar a peça ou mesmo encontrar outras fotos. Mas não conseguimos e resolvemos fazer com base no única e pouca referência que tínhamos. A maior dificuldade de fato foi a falta de material com os detalhes estéticos da moto. As fotos que encontramos eram pouquíssimas. Tivemos que pesquisar muito e contar com a ajuda da memória de algumas pessoas que estavam ligadas diretamente ao projeto original na época.
Nota: leia a matéria completa sobre a construção da réplica no site Motos Clássicas 70. Lá você encontra também todas as especificações técnicas e alterações em relação a motocicleta original.


Motocultura: O que pretende fazer com a moto?
Ricardo: Vai para minha pequena coleção e estará em alguns eventos de motos clássicas. Não poderei rodar, pois ela tem placa amarela, igual à original de 1983.
Motocultura: Quanto tempo demorou o projeto da ideia até a conclusão da moto?
Jorge: O projeto demorou exatos 2 anos.
Motocultura: O que mais gostou no projeto?
Ricardo: Foi o desafio e a diversão em refazer um exemplar destes! CBs tem várias por aí mas esta aqui é única!

Confira os detalhes da construção nas fotos!








A réplica, construída pelos dois amigos, provou-se um trabalho primoroso que perdurou por dois anos e que, além de trazer a vida uma motocicleta que não estava em boas condições, também resgatou um pedaço da história do motociclismo no país.