Em 2013, o gaúcho Edinho Kroth, entusiasta das motocicletas 2 tempos, decidiu que iria realizar um encontro dedicado as máquinas que fizeram história, deixaram saudades (a produção foi descontinuada) e também uma legião de fãs dedicados às motocicletas carinhosamente chamadas de “fumacentas”. Cinco anos depois, Edinho é o maestro de um encontro que cresceu, prosperou, é referência e atrai gente do país inteiro para a cidade de Brusque em Santa Catarina. O evento acaba sendo uma verdadeira história viva das motos 2 tempos dada a diversidade de motos e gente de todas as idades.
Edinho é um daqueles caras simples, humilde, que se dá bem com todo mundo e que todo mundo vira amigo fácil. Um típico e bem vindo cidadão do interior do país onde as coisas são mais verdadeiras e sinceras. É uma pessoa que coloca a mão na massa e faz acontecer e, mesmo assim, não atribuí o sucesso de sua empreitada a si mesmo. No lugar disso, faz questão de colocar o resultado do sucesso em todos aqueles que participam e ajudam para que o evento se realize. Uma prova disso é que, durante uma das conversas para nossa entrevista, estava fazendo, com a ajuda de um amigo habilidoso com a solda, com as próprias mãos, 36 troféus para provas de dinamômetro do encontro que acontece em abril de 2018.
Em 2017, depois de ajudá-lo com algumas coisinhas a respeito do encontro, um belo dia recebo um pacote dos correios em casa. Não sabia do que se tratava. Não estava esperando nenhuma encomenda. Abro e, para minha surpresa, lá estavam todas as camisetas do encontro, desde a segunda edição, algumas cervejas locais de Santa Catarina, um potinho maravilhoso de torresmo e um carinhoso bilhete escrito a mão pelo próprio Edinho agradecendo a ajuda. Peguei o fone na hora e liguei pro homem, confesso, emocionado, para agradecer. Foi um gesto tão simples mas que era explícito que era muito verdadeiro. Pelo contexto, foi a melhor cerveja que tomei em 2017.
Por esta e tantas outras, não à toa, Edinho é uma das figuras mais queridas entre os amantes das motos 2 tempos do país.

Como começou sua história com as motocicletas?
Desde moleque sempre tive aquela “pira” por motos. Aos 11 ou 12 anos já andava, obviamente escondido, com a Yamaha RDZ 135 do meu pai.
Em meados de 2001, com 17 anos anos, queria correr. Foi aí que então tive minha primeira experiência com o que se poderia chamar de moto profissional de arrancada. Lembro que era um protótipo: um motor da Agrale 200cc no quadro de uma Yamaha RX 80. A moto era conhecida como cadeira elétrica e era uma das motos do meu mecânico na época, ainda em Santa Cruz do Sul, que era conhecido como Moto LOY (In memoriam). De la pra cá o amor pelas duas rodas só aumentou.
E o encontro das 2 tempos? Como tudo começou?
Começou em 2013, quando aconteceu o primeiro de todos. A ferramenta de divulgação e de engajar a galera ainda era o Orkut na época e era onde eu participava de algumas comunidades relacionadas as motos 2 tempos. Havia uma turma bem expressiva da região de Blumenau e, naquele tempo, eu já morava em Brusque ha uns 4 anos e tinha contato com alguns amigos proprietários de motos 2 tempos. A partir de muita conversa virtual e também fazer muitos novos amigos pela antiga rede social, pensamos que aquele movimento todo que ficava só na tela do computador poderia sair para o mundo real e foi então que cogitamos em realizar o encontro. Como o maior número de pessoas estava em Blumenau, decidimos fazer lá. Mas aí tem aquele coisa de quando tem muita gente envolvida, todo mundo fica empurrando com a barriga e as coisas não acontecem. Aí eu decidi agir e tomei para mim a responsabilidade. Fui até um posto de gasolina na região central de Brusque para conversar com o gerente e saber se ele poderia nos ceder o espaço do posto para um encontro em um domingo. A minha estimativa era algo em torno de 40 a 50 motos, não mais que isso. A resposta foi sim e então providenciei cartazes, camisetas e sai convidando meio mundo nas comunidades do Orkut.
No dia do encontro foi uma surpresa. Apareceram mais de 160 motocicletas. Pra uma primeira vez, era um sucesso. A partir daí não parou mais e tive a chance de realizar algo que sempre quis fazer, que era reunir os amantes das 2 tempos. Isso por que eu sempre frequentava muitos encontros de motociclistas mas sempre ficava super perdido com minha Yamaha RD135. Pois, em quase todos, praticamente não haviam outros da minha turma, a turma da fumaça. E aí me veio o estalo de tentar reunir só as motos 2 tempos.

E deu certo. Já serão seis edições desde a primeira. Alguma delas marcou você de alguma forma?
Deu certo sim! A cada ano recebemos mais e mais participantes. E a cada novo encontro, mais gente vem de mais longe. São entusiastas de muitos estados do Brasil. E é muito legal isso de, todo ano, poder conhecer pessoalmente, olhar no olho, tanta gente bacana que conheço só pela internet, assim como as pessoas conhecerem umas as outras e fazerem novas e boas amizadas. É difícil falar sobre algo que marcou mais pois, a cada ano, rola tanta historia legal que escolher só uma não dá. Mas eu garanto que em todo o encontro sempre rola muita coisa bacana e que acaba mexendo com a gente.
De qualquer forma, o primeiro encontro foi marcante pelo fato de ser uma coisa bem despretensiosa e aparecerem tantos participantes já logo de cara.
Quais foram as grandes dificuldades até hoje para organizar o evento?
Como o encontro foi sempre muito bem aceito, já na segunda edição percebi que não poderia mais fazer em um posto de gasolina, por exemplo. Pois já tínhamos um número expressivo de participantes e a cidade de Brusque já estava marcada como sede do evento. Decidi migrá-lo para um lugar maior e mais preparado. Então transferimos para o principal centro de eventos da cidade, a FENARRECO. Mas aí começaram as dores de cabeça com a burocracia. Um evento de porte precisa de uma série de coisas que a gente nem imagina. Fazer tudo dentro da lei e das regras é bem trabalhoso, exige tempo e acaba tendo um custo bastante considerável. É aluguel, alvará, segurança, alimentação, som, iluminação, divulgação e tantas outras coisas. Toda organização gera muito trabalho e exige muita dedicação pra não correr o risco de deixar de acontecer por algum vacilo de organização.
Conta pra gente. Como foi a última edição em 2017?
Foi a primeira edição que aconteceu em dois dias. Até então fazíamos em apenas um dia. Foi também onde decidi abrir o encontro para as motos 4 tempos. Até por que ficava chato alguém chegar de moto 4 tempos e não poder entrar. Para isso, deixei um dia de encontro misto e um dia sendo exclusivo das fumacentas.
Talvez por isso, foi a edição em que mais recebemos público e motos. Foram dois dias de muita fumaça, show de manobras radicais, dinamômetro, passeio pela cidade, bandas de rock, homenagens, camping e outras atrações.
Você cuida de tudo sozinho ou tem alguém que ajuda você em todos os detalhes?
Sou o organizador que mais suja as mãos, risos. Porém, tenho muitos amigos que me ajudam demais, tanto nos dias do encontro como nos meses que antecedem com toda a coisa de planejamento. Prefiro não falar nomes por que, sempre, sempre tem o risco de esquecer de alguém. Mas quem me ajuda sabe e tem todo meu carinho e agradecimento. E, claro, quem me ajuda demais e apoia sempre é minha família. Minha mãe e meu irmão vem todo santo ano para ajudar.
E se alguém tem interesse em patrocinar ou mesmo ajudar de alguma forma? Como deve proceder?
É só entrar em contato diretamente comigo! Além de fazer tudo eu também atendo o telefone e respondo os e-mails!
(nota: os contatos estão no final da entrevista)
Nessas 5 edições até aqui, que histórias interessantes você tem pra contar?
Muitas! Mas tem uma em particular que aconteceu em 2017 e foi incrível. Uma turma de amigos 2 tempistas chamados TWO STROKE 019, vieram de São Paulo e, na ocasião do encontro, surpreenderam um de seus amigos e a todos do evento. A história é que esse amigo deles estava passando por dificuldades financeiras e estava com a sua 2 tempos parada. A turma pegou a moto dele escondida, colocaram toda a documentação em dia e colocaram a moto pra rodar com uma vaquinha e com cada um ajudando com peças ou com o que podia. Deixaram a moto impecável e entregaram para o amigo durante o encontro. Foi um momento muito legal que criou e reforçou ainda mais o clima de solidariedade e união do encontro. Nem eu esperava por essa!
O que o evento trouxe de legal pra você como pessoa?
Olha, trouxe muito conhecimento e muita experiência com pessoas. Tenho muito orgulhoso de ser o organizador e quando vejo o resultado, me emociono já que passo o ano todo envolvido com as 2 tempos e sempre planejando algo a mais pro próximo encontro. Sem falar no número de grandes amigos que sempre aumenta a cada ano.
Estando fora do eixo das grandes capitais, principalmente Rio e São Paulo, você acha que é mais difícil conseguir apoio e divulgação?
Pelo contrário. Acho até que é um ponto positivo o evento ocorrer no interior, fora do eixo. Pois, de certa forma, o encontro acaba sendo também, pra quem vem das cidades grandes, uma fuga da selva de pedra, uma viagem bacana, um passeio legal e um momento de descanso e lazer. Além do mais, a região aqui é muito turística, do lado do lindo litoral catarinense. O que complica mesmo é a questão de patrocínio. Tenho mais acesso à galera da região que está interessada em patrocinar. Mas a gente sabe que a realidade econômica do interior é bem diferente das grandes cidades. Então tenho de correr atrás da máquina e tirar leite de pedra. De qualquer forma, sempre tem muita gente apaixonada por 2 tempos e, por isso, temos um número expressivo de apoiadores. Desde grupos de 2 tempistas até negócios locais, oficinas, profissionais liberais, etc.
Você também compete. Conta pra gente essa sua história como piloto!
Como eu disse antes, essa paixão pela arrancada começou, cedo. Ainda sou piloto de arrancada, tenho minha Yamaha RD 135 preparada desde meus 16 anos de idade. Ela me acompanha firme e forte até hoje. Já são anos de pista. Tenho até alguns títulos! Como vice campeão gaúcho e campeão catarinense de arrancada.

Edinho, muito obrigado pela entrevista e estamos torcendo para que o evento deste ano seja novamente um sucesso.
Eu é que agradeço e convido todo mundo a dar um belo passeio até Brusque pra respirar um ar puro (cheio de fumaça 2 tempos).
Confira o vídeo do evento de 2017
Feito pelo carismático entusiasta das 2 tempos, o Coruja, do canal Resistência 2 Tempos Brasil no Youtube.
Confira algumas fotos do evento de 2017
SERVIÇO
6° Encontro Nacional de Motos 2 Tempos
Página do evento no Facebook
14 (sábado) e 15 (domingo, exclusivo para motos 2 tempos) de Abril
A partir das 8 horas da manhã
Ingresso: R$ 15,00
Atrações: Passeio pela cidade, show de manobras radicais, desafio de velocidade no dinamômetro com premiação, área para manobras, exposição de motos 2 tempos, bandas, venda de peças e acessórios, praça de alimentação e choperia
CONTATOS
Edinho Kroth
Fone: (47) 98481 1402
edinhokroth@hotmail.com